sábado, 12 de novembro de 2011

Remoinhos no cabelo

Todos os dias, para ir trabalhar, piso o mesmo caminho. Todos os dias, vou sem travões. Não há dia que não me atrase. Perco-me a olhar para as pessoas e a encontrar personagens, a ver as folhas dançarem no chão e nas árvores, a admirar o movimento das gruas nas obras, a ouvir os pingos da chuva - parecem notas musicais. Quando o sol governa e o calor aperta, aumento a velocidade. Não há o risco de escorregar, as pedras da calçada ficam quentes e os meus pés, para me desviarem dos buracos, deslocam-se numa espécie de valsa. Nesses dias atinjo uma velocidade assustadora, deve ser a força do sol que se entranha nas pernas. 

Chego ao destino e afogo-me numa garrafa de água. Seja inverno ou verão, é dos momentos mais gostosos do dia. Água. Todo o meu corpo se transforma em água. Rego-me. Aclaro-me. Seco-me e navego. Deixo-me ir nas ondas... 

Ontem foi diferente. Abrandei a velocidade na descida até ficar imóvel a contemplar um novo instante. Um grupo de juventude. Sim, um grupo de juventude, não me enganei na discrição. São moderados na altura mas enormes pelo que consagram. Existem na realidade. A juventude não existe, apenas, bem (d)escrita nos livros, dos autores Russos, ou nas imagens captadas pelos bons fotógrafos. É uma realidade, tem consistência e não tem tempo limite.     

Dois a dois, cheios de remoinhos nos cabelos, lá estavam de mãos dadas. Umas mãos pequeninas, agarradas umas às outras com tanta força que não fazia doer. A maioria tinha um casaco vestido e por baixo um bibe, com nome bordado. O primeiro e o último nome. Também tive bibes assim. 
A orientar a formatura estava uma “Senhora Despachada”, vestida à polícia sinaleiro, como aqueles que outrora estavam nos cruzamentos em Lisboa. Tinha um colete verde florescente, um verde tão verde que parecia fresco e, de tão verde que era, ofuscava os olhos. Por baixo do colete, tinha um casado apertado ao rosto, vestia estreito como o sorriso que aparentava nos lábios e faltava na face. Falava alto, bafejava com perdigotos e movimentava o tronco, com as pernas paradas. 
Indiferentes, completamente indiferentes, aqueles remoinhos nos cabelos permaneciam serenos a observar as cores e os sabores da manhã. Bem despertos, com as mãos sempre apertadas e os pés em permanente animação, tinham um olhar claro, independente da cor dos olhos. Olhavam para cima, sorriam para os desenhos que as nuvens ofereciam, apontavam para o céu e pintavam as figuras com os lápis de cor que traziam na ponta dos dedos. Com os braços pequeninos abraçavam o tamanho do dia, desprendidos da quantidade de tempo que tinham de percorrer até voltarem a casa. Nunca abandonavam as mãos.

Quando somos crianças não largamos as mãos. Apertamo-las às outras - maiores, mais pequenas, iguais ou diferentes. Agarramo-nos, sem medo. Permanecemos dentro delas sem pensar no movimento seguinte. E se, naturalmente, entregamos as mãos, a um objecto, ficamos seguros pelos dedos. Não é assim? Os gestos das mãos dizem tudo. São uma espécie de reflexos do olhar. Prendem-nos à juventude (ou à falta dela).     
Fiquei ali, amparada àquelas mãos todas juntas em duas, a imaginar a história daqueles remoinhos. A recordar os meus bibes e a sentir as mãos que carregavam os bolsos cheios de sorrisos, gargalhadas, lenços ranhosos e, por vezes, lágrimas quentes - os bolsos dos meus bibes eram impermeáveis às lágrimas frias - estavam sempre cheios de mim e de outros. 
Discretamente, enquanto olhava para o céu e pensava nos desenhos das nuvens - casas.; cães grandes; golfinhos sarapintados; flores com pétalas coloridas; bolas de fumo doce; janelas…muitas janelas e portas com frinchas - sorri.  Olhei em volta e sorri. Aquelas mãos que carregavam os bolsos dos bibes continuavam penduradas nos meus braços. 

Num único céu, estávamos todos nas nuvens. Por isso permaneci ali com eles até que – dois a dois – aquela corrente de juventude iniciou o seu caminho. Fui na fila. É verdade, deixei-me ir naquela fila, sem que a “Senhora Despachava” notasse que não tinha um bibe com o meu nome bordado. 
Ontem não prescindi da garrafa de água mas deixei de ter o corpo passado a ferro. Ainda tenho remoinhos no cabelo, continuo a ver desenhos nas nuvens e a percorrer, com muitas mãos, o meu caminho. 



amor, sexo e poesia. . Há peixes, escamas e areia. Há. Há cores, cheiros e fumo. Há. Há pedras, montes e arco-íris. Há. Há família, gerações e sangue. . Há teatro, tábuas e entregas. Há. Há universo, estrelas e nublosas. Há. Há palavras, dedos e tinta. Há. Há cosmos, células e cérebros.  Há. Há barcos, marés e chegadas. . Há sorrisos, bolsos e gargalhadas. Há. Há tristeza, lágrimas e secura. Há. Há música, som e olhares. Há. Há lábios, rostos e beijos. Há. Há mascaras, medo e esperança. Há. Há livros, amparos e escrita. Há. Há insónias, preocupações e soluções. Há. Há mãos, abraços e sentimentos. Há. Há amigos, ombros e degraus. Há. Há histórias, passado e presente. Há. Há conselhos, liberdade e decisões. Há. Há futuro, surpresas e paz. Há. Há esperança, optimismo e sementes. Há. Há gavetas, baús e sótãos. Há. Há oceanos, presenças e encontros. Há. Há abrigos, lareiras e chama. Há.lixo, joio e separação. Há. Há janelas, moinhos e palhaços. Há. Há amigos, fraquezas e amparo. Há. flores, raízes e alturas. Há. Há dimensão, consistência e oleiros. Há.  Há nuvens, desenhos e imaginação. Há. Há viagens, pessoas e tatuagens. Há. Há chapéus, cavalheiros e “madames”. Há. Há uns, outros e ninguém. . Há marcas, correntes e faróis. Há. Há terra, segurança e caminhos. Há. Há felicidade, amanhãs e alpendres. Há. Há espanta-espíritos, capas e determinação. Há. Há loucura, perversão e dependências. Há. Há gelados, balões e piões. Há. Há cidades, conhecimento e dedicação. Há. Há sismos, incompatibilidades e solidão. Há. Há ferro, entranhas e estrutura. Há. Há obsessões, enganos e ruelas. Há. Há paisagens, registos e diafragmas. Há. Há agregação, pálpebras e olhos. Há. Há a linha do horizonte,  esperança e perdão. Há. Há corpos, movimento e dança. Há. Há luz, buracos e saídas. Há. Há chuva, vento e sol. . Há "eus", "tus" e "nós". Há. Há arte, tempo e silêncio. Há. sonhos, memórias e saudade. Há. 
Espaço... Há?

Até ao fim do mundo com um nariz de palhaço- Patagonia Luso Expedition

A "pedalar com um nariz de palhaço" é um projecto tão nobre como (legitimamente) ambicioso. Um caminho de sonho até Ushuaia, na Argentina, também conhecida como a Cidade mais a sul do planeta - Patagónia e Terra do Fogo. 
Para além do nariz que tal pôr o sorriso neste projecto!   
"...Esta expedição é mais do que uma viagem em bicicleta. É uma combinação de desafio físico e psíquico, de aventura, de fruição do espaço natural associado a um estado de liberdade absoluto, sem prémios monetários ou corridas contra o relógio. Ao desafio de 2200 kms a pedalar, quisemos associar uma causa solidária, e que a nossa viagem tivesse um efeito positivo e inesquecível na nossa sociedade. E por isso surgiu-nos como natural a Operação Nariz Vermelho, uma Instituição Particular de Solidariedade Social cuja missão é levar alegria às crianças hospitalizadas. Porque 2000 kms é a distância que os Doutores Palhaços percorrem anualmente nos corredores dos hospitais que visitam, enfrentando desafios diariamente. A nossa meta é angariar 1€ por cada quilómetro percorrido, num total de 2.200€. O dinheiro angariado reverte inteiramente a favor da Operação Nariz Vermelho. Todas as despesas inerentes à nossa viagem são financiadas por nós próprios e com o apoio de empresas que se quiseram associar com material para a viagem. O leitor não precisa de sair do seu lugar para ajudar! Basta visitar o site e seguir os passos indicados para contribuir também para esta causa. ...". 




quinta-feira, 10 de novembro de 2011

As palavras de ALA e o som de Vitorino


"Eu que me comovo por tudo e por nada..."

MGMT no Guggenheim

Li aqui que o Museu Guggenheim, em NYC, vai ter uma visita especial, nos dias 10 e 11 de Novembro. 



O que será este som espalhado pela rampa circular que nos convida a correr quando descemos?! 
Vão dar música a Maurizio Cattelan ...

EYE HEIGHT - RICARDO JACINTO E BEATRIZ CANTINHO

Imprecisões recomenda
EYE HEIGHT  
RICARDO JACINTO E BEATRIZ CANTINHO

Instalação vídeo
Inauguração 10 de Novembro 2011 19H
De 11 de Novembro a 11 de Dezembro





FICHA TÉCNICA | Credits
Direcção Artística | Artistic Direction Beatriz Cantinho, Ricardo Jacinto 
Co-Criação e Interpretação|Co-Creation and Interpretation (Bailarinos |Dancers) Ana Gouveia, Beatriz Cantinho, Filipe Jacôme, Francesca Bertozzi, Madalena Xavier
(Músicos | Musicians) Nuno Torres (saxofone alto), Ricardo Jacinto (violoncelo) 
Convidados|Guests C Spencer Yeh (violin, voice), Shiori Usui (voice)
Palco/Instrumento | Stage/Instrument Ricardo Jacinto 
Projecto de Execução | Project Development André Castro e Elysabeth Remelgado 
Construção|ConstructionTomás Viana, Ricardo Jacinto, Nuno Torres
Vídeo | Video 
Realização | Direction Beatriz Cantinho, Ricardo Jacinto 
Bailarinos | Dancers Ana Gouveia, Filipe Jacôme, Francesca Bertozzi. 
Músicos | Musicians Nuno Torres (saxofone alto), Ricardo Jacinto (violoncelo) 
Direcção de fotografia | Director of photography Vasco Viana
Cameras | Camera operators Vasco Viana, Vasco Saltão, Nuno da Silva 
Maquinistas | Dolly Grip Rui Pereira, Tiago Valente, Daniel Monteiro 
Som|Sound Pedro Magalhães 
Luz|Light Alexandre Costa 
Figurinos|Costume Design Mariana Sá Nogueira
IT Consultancy and Support Lote125 Chief Sync Architect Jose Pedro
Fotografia | Photography  Daniel Malhão, João Quirino
Design Matilde Meireles
Gestão de Projecto | Project Management Meninos Exemplares
Produção Executiva | Production  Sara Morais
Co-Produtores | Co-Producers Edinburgh College Of Arts, Fábrica da Pólvora – Centro de Experimentação Artística
 Tempo – Teatro Municipal de Portimão
Apoios | Support Câmara Municipal de Oeiras / Fundição de Oeiras, Vende-se Filmes, Flamenco Society [ Edinburgh ], Vera Cortês Agência de Arte, Bomba Suicida, Teatro Praga, Máquina Agradável
Projecto Financiado Por | Financed By Secretaria de Estado da Cultura-Direcção Geral das Artes, Fundação Calouste Gulbenkian


Laura Marling - Grande descoberta







Mayer Hawthorne - escolhi três





A arte de morrer - Um filme a não perder

"Restless" de Gus Van Sant 


Comovente e luminoso. O preciso valor de uma lágrima ...