Cruzaram o respirar e sorriram sem os lábios.
Encontravam-se no mesmo local, pela mesma razão.
Outra pessoa. A mesma pessoa.
Ambos sabiam que seria assim, era uma questão de tempo, afinal tinham experimentado o mesmo motor de arranque.
Conheciam bem os espinhos onde se cortaram. Estavam, ambos, esfrangalhados e tinham os rostos tingidos da mesma cor malvada.
O momento era invulgarmente introspectivo e esclarecedor, os dois tinham perdido as singulares linguagens corajosas.
Estavam numa grande poça de nada, mergulhados numa invisível maré vazia.
No entanto, coraram.
- Continuamos a ser os únicos animais que coram, não é verdade? Disse o mais velho.
Nada. Não lhe foi devolvido um único som ou expressão.
As carnes, o respirar, as mãos, deixavam transparecer que para aqueles dois Homens, a vida tinha terminado de uma forma abrupta e cruel. Estavam vazios do "eu", cheios de nada.
A outra pessoa, a mesma pessoa, era mestre em sugar os outros.
Porém, o tempo havia passado de forma diferente pelos dois.
Pelo mais novo, o tempo ainda era medido pelo tamanho dos dias; ao invés, pelo mais velho, já se encontravam os anos.
Provavelmente por esse motivo, um conseguia falar e o outro, ainda, não.