sábado, 26 de novembro de 2011

O espaço entre o Jogo, os Tabuleiros e as Peças

A desonestidade não está “no jogar”, em simultâneo, em dois tabuleiros – ao mesmo tempo ou em tempos diversos. 
O facto de jogar em dois tabuleiros, não é, por si só, sinónimo de falta de lealdade ou de desonestidade. A insipiência e o desrespeito pelas “regras de jogo” – previamente determinadas – sim, demonstram a moldagem do carácter. 
A desonestidade verifica-se quando se joga “modalidades” iguais de forma discordante, legitimando essa discrepância pelo facto de os “jogadores” serem diferentes ou justificando tal procedimento com um outro argumento: é a liberdade de definição da “estratégia”. 
A palavra “estratégia” remonta ao grego antigo stratègós (de stratos, "exército", e ago, "liderança" ou "comando" - inicialmente significava "a arte do general") designava o comandante militar, à época da Democracia Ateniense - considerada a matriz da democracia moderna – cada um no seu lugar. Espaço
Na prática, “estratégia” não é mais que uma equação, um plano mental, uma forma de pensar o futuro, integrada no processo decisório. 
Nesta equação, é precisamente o “modus operandi” - a maneira de agir, influir ou executar uma actividade - que confessa os procedimentos que advêm de uma escolha - “estratégia” - colocando-a como uma espécie de catalisador da manifestação de conhecimento do “jogador”. Um conhecimento que não envolve apenas instrução (saber técnico), exige, também, formação (ética).  
É minha convicção que “jogar honestamente” passa, entre outros elementos, por tratar de forma diferente o que é diferente – saber, antecipação, interiorização, distanciação e exteriorização. 
Todavia, importa registar que, essa diferenciação não deve existir no plano subjectivo – ou dependente da vontade do que “dá mais jeito” (benefício). Não. As diferenças revelam-se com os factos, na actuação, na forma como são movimentadas as peças no tabuleiro. É essa movimentação que distingue o “jogador”, não é a intenção que o move para agarrar as peças que o caracteriza, mas sim, o lugar onde as coloca: a forma como interioriza as regras e as integra na sua “estratégia”. 
Ter a coragem de proceder nestes termos é argúcia, ferramenta elementar para encontrar o “outro” na sua verdade, não na verdade que gostaríamos que o “outro” fosse. 
É neste “tabuleiro”que se define o “jogador”. Na diferença. Privilégio que também poderá designar-se por liberdade: uma conquista, de espaço, para viver de modo absoluto e independente os princípios que subjazem às “regras de qualquer jogo” e para aceitar a consequente responsabilização. 
Confuso? Também eu … 

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