O Bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, é uma das zonas mais hospitaleiras da Cidade.
Cresci, a entrar e a sair do Largo Afonso do Paço, com a magia do vento que o caracteriza e as corridas ao “Eduardo dos Livros” para comprar os cromos mais difíceis de encontrar no mercado.
Guardei, nesse recanto do Bairro, as memórias felizes dos meus primeiros sorrisos, das gargalhadas, dos trabalhos de casa ao sábado de manhã, das dúvidas e do aconchego daquelas mãos que agarravam os livros, com a delicadeza sublime da sabedoria.
Foi lá que conheci “Alexandres”, O Grande e O'Neil, Victor Hugo, a razão de Platão, a poesia de Lorca, a Flauta Mágica de Ingmar Berman, um Jim que era Lord; ouvi pela primeira vez Carmina Burana, vi “Um Eléctrico chamado Desejo” e aprendi que não se pode viver sem Vivaldi, Mozart, Vinicius, João Gilberto e Chico Buarque.
Certamente por isso, não suporto a dor da ausência que ficou naquela janela depois da viagem.
Voltar lá quando adormeço, sonhar baixinho para não acordar as memórias e sentir o cheiro quente, é viver o sabor colorido dos afectos intocáveis.
Hoje, porque é hoje, ouço com especial atenção isto e penso em quem fez desse Largo o meu recanto, em Campo de Ourique.
Certamente onde estão, olham pela janela, passeiam pelo pomar das maçãs saborosas, com aquele sorriso malandro que reside ainda cada um de nós.
Do you hear the people sing?
1 comentário:
o bairro de Campo de Ourique tem as melhores farmácias. Lá diz o meu pai, e eu acredito!
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