Tudo? Nada!
Somente o vazio de um todo que nos percorre de alto abaixo, de um lado para o outro e transforma o que demais sólido ou sedimentado parecia existir.
A Cidade entra, acaricia, rebola, salta, pontapeia, passa a residir dentro de nós.
Percorre-nos. Enche-nos. Esvazia-nos. Metamorfoseia como se fossemos uma espécie de matéria cósmica, aquela de que é feita as estrelas que vivem intensamente (e, por isso, duram pouco).
Em cada passo, como num exercício de matemática, a cidade examina-nos, avalia cada detalhe, cada fracção ou segmento da equação, num transcendente processo de centrifugação, tão doloroso como eficaz.
Tenta-nos. Testa-nos. Examina-nos.
Resistimos (ou não). Reaprendemo-nos no seu catalisador de emoções e reacções, de opções e posições.
A Cidade é um bisturi cirúrgico e nevrálgico para a descoberta da humanidade que existe em cada um, numa permanente e brutal queda livre pelo abismo.
Vive-se a cidade como vive o rio. Sem repetições e, por vezes, sem berma para aproarmos ao descanso.
Na Cidade não há tempo, o tempo não tem tempo, tem luz. Uma luz constante e vigorosa que faz do existir a essência, nada mais.
O sol troca de lugar com a lua, à velocidade de um electrão, e os dias são vividos em grupos de um, onde, por vezes, a liberdade é confundida com a curiosidade que subjaz ao “facilitismo” que emerge da individualidade.
As badaladas, ininterruptamente sentidas na atmosfera, criam compassos binários entre o ontem e o hoje; o amanhã não tem extensão no ritmo, porque é só amanhã.
Na Cidade, não se dorme nem se acorda. Existe-se na poesia de uma musicalidade que superioriza o tempo dos dias até encontrar o seu silêncio. Um silêncio tão assustador como ensurdecedor ou estrondoso, escrito numa partitura doce e peculiar, simples mas não simplista, trauteada por cada um e por ninguém mas que permanece no eco que vem dos túneis que A seguram.
Nesse momento, na imensidade da matéria, encontra-se o volume da sua transcendência. O ferro …
Aquele ferro que vem do centro da terra, inamovível e indiferente, derrete-se em cada um de nós, moldando-nos, tornando-nos corpos aglutinados ou solitários, dependendo do modo de como nos conseguimos deixar estar e ir.
É nesse momento que ficamos lá, numa Cidade perpetuada em nós.
2 comentários:
E não podia ser Lisboa?
São inconfundíveis ...
Lisboa, é Lisboa e NYC, é NYC.
Agradecida
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